12 agosto 2004
O CANTO HÍBRIDO DA PEDRA
Decifra, Oh Musa, a cifra cantada por Hathor,
Mãe sétima de filho único,
Afrodite do Nilo que de Dandarah trouxe,
Imóvel, nua e oblíqua,
Brônzea luz sobre Hélia flor,
Desvelando-a.
Depois da época, agora julga;
Escolhe, do senso solto, o certo:
Modela-o, mantêm-no firme.
Rasga o tempo e o duplo-infinito parte limitado:
Síntese ímpar do olhar!
Atua.
Extrai!
Nega o bloco e afirma o ser da arte.
O que fica, presa interna de si,
Retém na aljava de mármore a seta,
Com cinzel glauco-carmim.
Finca-o no bloco,
Entrelaça o mútuo,
Ultrapassa o outro,
Germina o mesmo e único desejo de ti.
E segue no flanco o impulso incessante de som!
Estilhaça!
Executa!
Permuta a lítica em carne!
Alva e límpida,
Pede a ela que se revele,
Sendo rígido o pulso contínuo de luz.
Súbito,
Projéteis descontínuos,
Despojos do bloco deposto,
Dormem no chão.
Morto o sentido do caco,
Fragmentos inertes
- Peças de um jogo de desmontar -
Tombam frios;
Escapa de suas frestas o calor,
Como a alma pela boca do corpo!
Resta viva,
Suada,
A Obra.
Cessa o golpe:
Já sangra a desmedida.
E sob cromática tez,
Elevada em silêncio ao leito,
Conserva quente o pacto
De mármore e lívida carne
E anuncia o princípio de teu movimento,
Por dentro,
Ao outro,
Autor,
De ti.
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