A probabilidade dos quase 50.000 acessos a este blog se deverem a algum tipo de conteúdo nele contido deve ser pequena e realmente não me convence, especialmente porque eu tenho tido intervalos enormes entre um post e outro. Isso se deve, em grande parte, ao fato de que eu tenho uma grande dificuldade em postar coisas aqui que sejam de cunho mais pessoal. Paradoxalmente, eu tenho no momento 3 blogs, que pretendia manter atualizados, o que significa que pelo menos eu tenho a intenção de comunicar alguma coisa, seja lá o que isso for. Acontece realmente que eu acabei montando os blogs com o intuito de transmitir algum conteúdo "menos superficial" ou "mais duradouro", e pelo fato de a minha mente ter sido acostumada a funcionar dentro dos parametros do classicismo, isso faz com que eu associe "naturalmente" superficial com pessoal, e duradouro com algo não pessoal.
Naturalmente também que agora eu perceba como isso pode ser um equívoco. Pelo menos as minhas emoções me dizem o contrário, ou seja, que a realidade nada mais é do que multiplicidade infinita, sem muita coisa a agregar cada individualidade debaixo de um denominador comum. Essa situação aparentemente contraditória das minhas emoções em face de algum exercício que eu possa vir a ter de pensamento deve ter sido o fator inconsciente que me levou a escolher o tema do "retrato antigo" para a minha recêm-iniciada pesquisa de doutoramento. Ainda não sei como explicar isso, mas quando falo em retrato estou pensando não apenas nas representações visuais de bustos e estátuas muito comuns no mundo antigo, especialmente a partir do período helenístico e com toda a força no período romano. O "retrato" - e esse é o tema da minha pesquisa - engloba outras dimensões do discurso como a biografia de imperadores, os tratados de retórica e, dentre outras dimensões, as concepções dos antigos sobre a alma e o corpo, presentes em tratados filosóficos como o De Anima, do Aristóteles.
No lugar de encontro desses gêneros do discurso antigo, no ponto onde todos eles se cruzam, se encontraria a categoria do "retrato antigo". O aspecto interessante e ao mesmo tempo problemático dessa noção de encontro ou cruzamento de gêneros na antiguidade é o fato de que essas noções mesmas de "cruzamento" e "encontro" remetem o pensamento antigo inevitavelmente para a questão da unidade do Ser, questão que é "resolvida" de formas diversas segundo cada autor ou tradição considerada. A questão que fica é a seguinte: seria possível identificar e descrever a forma como cada uma dessas filosofias concebem o retrato ou, o que seria mais prático e metodologicamente mais correto numa pesquisa de cunho histórico, seria possível identificar qual a concepção filosófica predominante por trás de um retrato ou conjunto de retratos concretos? No fundo uma questão implica na outra...
Mais interessante também é o meu movimento inconsciente de passar de um discurso pessoal para um discurso pretensamente "científico", "neutro", onde as questões que eu não consigo formular no nível pessoal são reelaboradas em outro nível, como se ao fazer isso eu estivesse tentado cruzar a minha identidade pessoal incerta e fugidia com algo que faz parte de uma longa tradição, cujos elementos poderiam me dar a sensação de estar constituindo a minha identidade no presente, diante da percepção de uma realidade fragmentada e multicafetada.
É engraçado, mas esse exercício metalinguístico me soa como estar diante de um espelho, contemplando a minha própria imagem, mas o que eu vejo não é igual ao que eu sou, ao que eu "mostro" ao espelho, pois de alguma forma existe algo além de mim mesmo e de minha "pura imagem refletida" que interfere nessa bricolagem de reflexos e reflexões infinitas através do qual o que no fundo acontece é uma incessante produção do si mesmo, do eu, do mundo e da sombra do eu no mundo e do mundo no eu.
Naturalmente também que agora eu perceba como isso pode ser um equívoco. Pelo menos as minhas emoções me dizem o contrário, ou seja, que a realidade nada mais é do que multiplicidade infinita, sem muita coisa a agregar cada individualidade debaixo de um denominador comum. Essa situação aparentemente contraditória das minhas emoções em face de algum exercício que eu possa vir a ter de pensamento deve ter sido o fator inconsciente que me levou a escolher o tema do "retrato antigo" para a minha recêm-iniciada pesquisa de doutoramento. Ainda não sei como explicar isso, mas quando falo em retrato estou pensando não apenas nas representações visuais de bustos e estátuas muito comuns no mundo antigo, especialmente a partir do período helenístico e com toda a força no período romano. O "retrato" - e esse é o tema da minha pesquisa - engloba outras dimensões do discurso como a biografia de imperadores, os tratados de retórica e, dentre outras dimensões, as concepções dos antigos sobre a alma e o corpo, presentes em tratados filosóficos como o De Anima, do Aristóteles.
No lugar de encontro desses gêneros do discurso antigo, no ponto onde todos eles se cruzam, se encontraria a categoria do "retrato antigo". O aspecto interessante e ao mesmo tempo problemático dessa noção de encontro ou cruzamento de gêneros na antiguidade é o fato de que essas noções mesmas de "cruzamento" e "encontro" remetem o pensamento antigo inevitavelmente para a questão da unidade do Ser, questão que é "resolvida" de formas diversas segundo cada autor ou tradição considerada. A questão que fica é a seguinte: seria possível identificar e descrever a forma como cada uma dessas filosofias concebem o retrato ou, o que seria mais prático e metodologicamente mais correto numa pesquisa de cunho histórico, seria possível identificar qual a concepção filosófica predominante por trás de um retrato ou conjunto de retratos concretos? No fundo uma questão implica na outra...
Mais interessante também é o meu movimento inconsciente de passar de um discurso pessoal para um discurso pretensamente "científico", "neutro", onde as questões que eu não consigo formular no nível pessoal são reelaboradas em outro nível, como se ao fazer isso eu estivesse tentado cruzar a minha identidade pessoal incerta e fugidia com algo que faz parte de uma longa tradição, cujos elementos poderiam me dar a sensação de estar constituindo a minha identidade no presente, diante da percepção de uma realidade fragmentada e multicafetada.
É engraçado, mas esse exercício metalinguístico me soa como estar diante de um espelho, contemplando a minha própria imagem, mas o que eu vejo não é igual ao que eu sou, ao que eu "mostro" ao espelho, pois de alguma forma existe algo além de mim mesmo e de minha "pura imagem refletida" que interfere nessa bricolagem de reflexos e reflexões infinitas através do qual o que no fundo acontece é uma incessante produção do si mesmo, do eu, do mundo e da sombra do eu no mundo e do mundo no eu.