29 junho 2007

Bricolagem?


Karl Blossfeldt (1865-1932)


O Palette tem para mim, ainda mais depois da reestruturação visual a que foi submetido, uma conotação dandy muito forte. Aqui, o gosto de escrever sobre arte é um pouco como quem vai decorando um cômodo, escolhendo cuidadosamente cada elemento, de acordo com as inúmeras possibilidades de combinação que ele oferece com os elementos anteriores, muitas vezes sugerindo ou exigindo mesmo uma reorganização do espaço, de modo a se adaptar a um novo todo, repensado e um pouco mais auto-consciente. É óbvio que isso não é o mesmo que praticar a História da Arte, ainda que em outros momentos do passado as duas atividades tenham se identificado e ainda hoje muitos não consigam ver a diferença que separa os dois tipos de atividade. Contudo, a História da Arte não é simplesmente diferente ou o oposto do que se faz aqui, ela é mais do que isso. Talvez a forma correta de se designar o presente exercício seja caracterizá-lo pura e simplesmente como Crítica de Arte, ainda que o termo exija ulteriores especificações. De qualquer forma, acredito que o que se faz aqui é um tipo de crítica de arte de tipo dandy, sem maiores pretensões à uma sistematização e um rigor histórico que somente o exercício pleno da História da Arte, partindo do presente esforço crítico, poderiam fornecer.

Para os propósitos do Palette Des Muses, o que vale aqui é um esforço pessoal de me libertar de um certo ambiente vulgar que encontro na realidade politico-social vigente, que procuro fazer reagir com um pouco da substância do instinto sensível que me preenche sem que eu mesmo possa dizer para que lado deverá correr a reação. Minha única interferência ocorre, como não poderia deixar de ser, na escolha das palavras certas pelas quais esse veio vem a jorrar. Misto de consciência a posteriori com um pouco de sensibilidade inata, o fazer do Blog se torna também o necessário cultivo dessa sensibilidade que, como um pequeno germe de vida, morreria pura e simplesmente sem o devido cuidado e proteção. Assim é com as nossas "mais sinceras paixões". As veias mais latentes são, às vezes, as que mais se manifestam; outras vezes não.
A imagem acima mostra uma fotografia de elementos naturais que muito influenciaram o espírito da Art Nouveau. Um de seus principais objetivos era buscar na natureza por formas que renovassem o repertório histórico já bastante percorrido e desgastado da arte ocidental. Talvez justamente por isso que as brilhantes soluções muitas vezes encontradas ainda conservassem muito dos princípios básicos do classicismo, como o equilíbrio formal e a simetria das formas. Quando se quer ir adianta, num momento de impasse, muitas vezes faz-se mister voltar-se para as raízes mais básicas, simplificando e depurando o que é possível de um lado e buscando soluções contíguas em novos meios como, no caso, a própria natureza, ou o aço e o vidro, elementos muito utilizados pelo movimento.

11 junho 2007

No Dia dos Namorados, Para a Minha Amada Paula


(1923) Eugene Atget, Grand Trianon, Le Temple de L'Amour À Travers Les Arbres


Andrew Marvell (1621–1678)


To His Coy Mistress


HAD we but world enough, and time,

This coyness, Lady, were no crime

We would sit down and think which way

To walk and pass our long love's day.

Thou by the Indian Ganges' side

Shouldst rubies find: I by the tide

Of Humber would complain. I would

Love you ten years before the Flood,

And you should, if you please, refuse

Till the conversion of the Jews.

My vegetable love should grow

Vaster than empires, and more slow;

An hundred years should go to praise

Thine eyes and on thy forehead gaze;

Two hundred to adore each breast,

But thirty thousand to the rest;

An age at least to every part,

And the last age should show your heart.

For, Lady, you deserve this state,

Nor would I love at lower rate.

But at my back I always hear

Time's wingèd chariot hurrying near;

And yonder all before us lie

Deserts of vast eternity.

Thy beauty shall no more be found,

Nor, in thy marble vault, shall sound

My echoing song: then worms shall try

That long preserved virginity,

And your quaint honour turn to dust,

And into ashes all my lust:

The grave 's a fine and private place,

But none, I think, do there embrace.

Now therefore, while the youthful hue

Sits on thy skin like morning dew,

And while thy willing soul transpires

At every pore with instant fires,

Now let us sport us while we may,

And now, like amorous birds of prey,

Rather at once our time devour

Than languish in his slow-chapt power.

Let us roll all our strength and all

Our sweetness up into one ball,

And tear our pleasures with rough strife

Thorough the iron gates of life:

Thus, though we cannot make our sun
Stand still, yet we will make him run.



GLOSS: slow-chapt] slow-jawed, slowly devouring.

09 junho 2007

Phyllis et Aristotles (Anonymous)

(s.d.) Queda de Aristóteles, Tapeçaria, Augustiner Museum - Freiburg im Breisgau, Alemanha.


A história que segue foi inventada provavelmente no século XIII no ambiente monástico para falar do poder feminino de sedução e da acochambrada que os homens dão na hora de inventar uma desculpa para os efeitos que esse poder tem sobre eles. Assim, no final, tudo acaba bem e a razão é mais uma vez salva depois de ter sucumbido ao poder do desejo. Posto o que parece ser o original em latim da história, cujo autor é, claramente, um anônimo, por causa das consequências a que seria submetido tendo declarado tais de pensamentos.


Latin:


ARISTOTLES, cum doceret Alexandrum ut se contineret ab accessu frequenti uxoris suae, quae erat pulcra valde, ne animum suum a communi providentia impediret, et Alexander ei acquiesceret, hoc advertens regina et dolens, coepit Aristotelem trahere ad amorem suum, quia multociens sola transibat cum pedibus nudis et dissoluto crine, ut eum alliceret.


Tandem allectus coepit eam sollicitare carnaliter, quae ait,


"Hoc omnino non faciam, nisi videro signa amoris, ne me tentes: ergo veni ad meam cameram, reptando manibus et pedibus, sicut equus me portando, tunc scio quod non illudes mihi."


Cui conditioni cum consensisset, illa intimavit hoc Alexandro; qui expectans apprehendit eum reginam portantem. Quem cum vellet occidere, ait Aristotles sic se excusando,


"Si sic accidit seni sapientissimo, ut a muliere deciperar, potes videre quod bene docueram te, quid accidere potest tibi juveni."


Quod audiens rex, ei perpercit, et in doctrina eius profecit.



English Traslation:



ONCE upon a time, Aristotle taught Alexander that he should restrain himself from frequently approaching his wife, who was very beautiful, lest he should impede his spirit from seeking the general good. Alexander acquiesed to him. The queen, when she perceived this and was upset, began to draw Aristotle to love her. Many times she crossed paths with him alone, with bare feet and disheveled hair, so that she might entice him.


At last, being enticed, he began to solicit her carnally. She says,



"This I will certainly not do, unless I see a sign of love, lest you be testing me. Therefore, come to my chamber crawling on hand and foot, in order to carry me like a horse. Then I'll know that you aren't deluding me."



When he had consented to that condition, she secretly told the matter to Alexander, who lying in wait apprehended him carrying the queen. When Alexander wished to kill Aristotle, in order to excuse himself, Aristotle says,



"If thus it happened to me, an old man most wise, that I was deceived by a woman, you can see that I taught you well, that it could happen to you, a young man."



Hearing that, the king spared him, and made progress in Aristotle's teachings.


AND they lived happily ever after.